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Novo Código - Novas Estratégias

 Caros amigos:

Espero encontrar-vos todos bem.

Como sabem, a FIG divulgou o novo Code of Points para o próximo ciclo olímpico (21-24) com algumas novidades muito significativas, sobre as quais eu gostaria de conversar convosco.
Peço desde já desculpa aos colegas de Tumbling, mas como habitual, não me irei pronunciar sobre esta especialidade, uma vez que não conheço o suficiente e não tenho opinião formada. Deixo essa parte para os colegas especialistas na matéria.
Em relação ao DMT e TRI, as novidades ao nível da estrutura das competições major para seniores, são importantes. 
Por um lado, no DMT, passamos a ter uma final a 2 partes (Final 1 + Final 2), sendo que a Final 2 conta apenas com 4 atletas. Além disto, em todas as fases da competição, a ordem de passagem é definida por sorteio, independentemente das notas conseguidas por cada ginasta (exceção à final 2 em que a ordem de passagem é a mesma da final 1, para os ginastas apurados).
Se a minha leitura está correta, os ginastas não podem repetir séries na Q1 e Q2 (podem repetir elementos mas não na mesma zona do aparelho). Nas finais (Final 1 e Final 2) também não podem repetir elementos.
Na prática, temos:
Q1 - 2 séries; Q2 - 1 série; F1 - 1 série; F2 - 1 série. Total - 5 séries.
Uma outra novidade é que o primeiro classificado de cada grupo da Qualificativa 1, tem apuramento direto para a Qualificativa 2 (ou Final 1, dependendo do número de ginastas na competição). O mesmo acontece com o primeiro classificado de cada grupo da Qualificativa 2, que se apura diretamente para a final 1.
Ora, isto pode levar a alterações significativas na estratégia dos ginastas e treinadores. Em países como a Rússia, ou Portugal, por exemplo, em que existem 4 ginastas com possibilidades de passar à Q2 (onde só podem ir 3) e 3 ginastas com possibilidade de passar à F1(onde só podem aceder 2), passa a haver uma competição interna mais acesa. Um ginasta, em teoria menos forte, pode apostar tudo na Q1 (queimando as séries mais fortes) e lutando pelo 1º lugar do grupo, para que seja um dos 3 a entrar na Q2. Lembro que a ordem de passagem é por sorteio. O mesmo pode acontecer na Q2, onde se disputa o acesso à F1.
Por outro lado, os ginastas mais fortes assam a poder simplificar um pouco as suas séries, já que passar em primeiro ou segundo ou noutro lugar qualquer à Q2 ou à F1 deixa de ser importante, uma vez que de seguida o ordem de passagem será definida por sorteio e a competição recomeça do zero.
Será curioso perceber como se vão organizar as equipas nacionais dos países mais fortes.

Quanto ao trampolim Individual, a mudança será ainda mais radical. A competição terá Qualificativa 1 + Qualificativa 2 (semifinal) e Final, como até aqui.
As grandes diferenças são:
1 - Ordem de passagem da Q2 (semifinal) e da Final definida por sorteio;
2 - Qualificativa 1 com duas séries pontuadas em (TOF, HD, EXE e DD) em que contará apenas a melhor. ou seja, a Facultativa 1 desaparece e passam a ter duas tentativas para a Facultativa 2.
Tal como no DMT, o primeiro classificado de cada grupo da Q1, apura diretamente para a Q2 ou Final, consoante o número de ginastas. Também na Q2, o primeiro classificado de cada grupo, apura para a final.
A pergunta a fazer aqui será "Qual será a melhor estratégia a usar na Q1?'"
Será preferível entrar com tudo na primeira tentativa, sabendo que temos uma segunda hipótese caso a primeira não corra como esperado, ou será melhor apostar numa primeira nota segura, embora não tão alta e deixar para a segunda tentativa a hipótese de tentar "esticar a nota"?
Será que a estratégia que faz sentido para um ginasta do Top 10 mundial é a mesma que serve bem um ginastas que luta por uma hipótese de entrar na Q2, mas que sabe que não tem ainda "andamento" para entrar numa final?
E como é que fica o jogo interno das equipas nacionais que têm 4 candidatos à final, mas que sabem que só três avançam para a segunda fase? 
No documento agora publicado pela FIG, não está especificado (ou se está não encontrei) se os ginastas do mesmo país competem no mesmo grupo. Se competirem, a gestão interna (de cada seleção) poderá ser mais simples. Se estiverem separados aleatoriamente pelos vários grupos em competição (sobretudo na Q1), então o jogo torna-se bastante mais imprevisível e em minha opinião, mais interessante. Imaginemos, por exemplo, uma seleção com 3 ginastas muito competitivos e 1 menos competitivo, em que 2 dos 3 mais competitivos estão no mesmo grupo e por acaso o menos competitivo está num grupo substancialmente mais fraco, tendo a possibilidade de ser o primeiro classificado desse grupo, logo, tendo apuramento direto para a Q2. Significa isto que um dos restantes 3 ficará de fora, mesmo tendo uma prestação superior. Com estas regras, um ginasta com 58,000 pts pode entrar na Q2 enquanto um com 59,000 pts fica de fora.

O que vos parece, amigos?
Aguardo as vossas opiniões, caso as queiram partilhar.

Aquele abraço
Helder Silva


Comentários

  1. Olá Helder, antes demais obrigada pela partilha que fazes das tuas opiniões sempre.
    Embora nem sempre escreva o meu parecer em relação ao assunto, desta vez irei dar a minha humilde opinião até porque não sendo um assunto demasiado técnico (que nunca é consensual - todos sabem ou "acham" que sabem mas muitas vezes não "percebem" exatamente o que é certo ou errado - o melhor mesmo é juntar uma pitada do que todos sabem para melhorar a receita ou até modificá-la, se possível para melhor mesmo que vá contra os princípios do que "achamos" certo até ao momento).

    Em relação a este assunto - novo código - aqui vai o meu parecer:

    Segundo a minha leitura, os grupos de competição, seja em DMT/TRA serão sempre por sorteio, ficando os ginastas de cada país distribuídos aleatoriamente e deixando de haver grupos constituídos por ginastas da mesma equipa/país. O que para mim é o mais acertado, pois assim a avaliação dos ginastas é mais assertiva e de acordo com o que cada ginasta executa - por exemplo, um país que ficasse num grupo com a China (TRA), está sempre condicionado, porque a avaliação desses ginastas será sempre massivamente comparado aos ginastas chineses condicionando assim a exata avaliação dos ginastas desses países - sendo aleatório, a avaliação será sempre muito mais de acordo ao que cada ginasta executa, muito mais individual - claro que falo em relação à avaliação da execução (EXE), porque tudo o resto (HD/TOF/DIF) tem uma avaliação objetiva, quer dizer na DIF depende!....às vezes de quem vê. (mas isto é outra questão).

    Se a estratégia melhor a ser usada na Q1 será "dar tudo na 1ª tentativa ou esperar pela 2ª tentativa, irá depender do grupo onde fica inserido e quais os adversários que terá no grupo.
    No entanto, o caminho que o TRI tem seguido nos escalões absolutos, é cada vez mais a Série com a maior DIF/maior TOF/maior EXE/ maior HD), por isso no meu entender é para se realizar uma F2 (como conhecemos) na 1ª tentativa e, utilizar a 2ª tentativa para aumentar nota/ fazer de novo, caso falhe / fazer uma F3 (com maior DIF), caso seja necessário, ou para testar ou comparar se compensa ou não fazer mais DIF / ou até fazer uma F1 se é o último do grupo e todos falharam, visto que o primeiro de cada grupo tem lugar garantido na Q2.
    Assim a competição torna-se muito mais interessante, imprevisível, mais homogénea porque sem a F1 à partida há a possibilidade de outros ginastas menos virtuosos entrarem na luta.

    Tudo o resto é igual ao que já conhecemos.

    Continuo a seguir....

    ResponderEliminar
  2. No DMT, a avaliação depende mais de outros fatores que não tanto a execução (DIF/acertar no BULL da receção), a meu haver não há tanto o tal condicionar da avaliação (atenção que refiro que é na avaliação, pois a execução deve ser sempre o ponto principal da modalidade de Ginástica de Trampolins em qualquer das disciplinas).

    Por exemplo, deixa de condicionar os ginastas do mesmo país, porque a competição normalmente é entre eles individualmente, o que não é benéfico para o ginasta (que muitas vezes usa logo as séries mais fortes porque tem que tentar ficar entre os 2 primeiros do seu país) que hipoteca a possibilidade de ficar entre os 3 primeiros na final, na maioria das vezes.

    A modalidade é individual, por isso este modelo aleatório dos grupos, dá a possibilidade ao ginasta (ao indivíduo) de lutar de igual para igual com os seus adversários. A Prova por equipa deve ser entendida como uma consequência da prova individual - o país que tenha tido os ginastas (indivíduos) mais consistentes é a equipa mais forte! Em qualquer disciplina da modalidade (TRI/DMT).

    Em relação, ao não se poder repetir elementos usados na Q1 (F1 e F2) na Q2, no mesmo local do aparelho, é igual ao que estamos habituados com a F3 e F4, no entanto na Q2 apenas haverá F3.

    Mas na minha leitura, na Final, embora não se possa repetir elementos da Final 1 para a Final 2, que me parece que é mesmo elementos (saltos) independentemente se são feitos em diferentes partes do aparelho, penso que se pode utilizar algumas das séries da Q1 e a série da Q2.
    Isto obriga a haver uma maior preocupação em ter pelo menos 4 séries consistentes e não apenas 2 mais ou menos, que poderiam dar acesso à final e, 2 mais fortes que normalmente seriam usadas numa final. Mas, que por vezes sai ao contrário pq não se estudou bem os adversários dos grupos e o melhor ginasta pode ter usado a série mais forte sem necessidade, ou pq estava a competir com os ginastas do seu país para entrar na final e hipotecou a possibilidade de ir ao pódio. Assim como ter mais uma série, a tal 5ª série, mais forte para ser usada na finalíssima que muitas das vezes até é a série que alguns usam numa final por equipa, em que fazem a sua maior DIF (desde que esteja consistente) para que a equipa saia vencedora. Às vezes só nas grandes competições é que testamos a tal 5ª série, o que está mal planeado.

    No meu entender a estratégia a elaborar deve ser cada vez mais, melhorar ou “fazer” um bom planeamento das séries, em qualquer das disciplinas da modalidade de Ginástica de Trampolins.
    Ter bem delineado quais as séries a trabalhar, ter atenção à forma como se montam as séries, de forma a que se possa tirar ou colocar diferentes saltos, caso seja necessário, desde que sejam saltos semelhantes – ter sempre uma série Base no TRA / treinar a rotina das séries a realizar em competição e não apenas as ligações da mesma – no DMT, trabalhar a consistência de pelo menos 4 séries / nunca esquecendo a tal 5ª série.

    Resumindo e concluindo, há que parar para pensar a forma como estruturamos o treino nos diferentes períodos de forma a que no competitivo seja o mais próximo da competição (curto e eficaz).
    E, é necessário pensar se, estaremos nós (em Portugal) a caminhar para este tipo de evolução da modalidade?

    Ou a não existência de mínimos, independentemente se estamos a recuperar de uma pandemia ou não, é o mais acertado?

    O que queremos para o futuro? Continuar a esperar que nos apareçam ginastas de excelência por geração espontânea e viver deles enquanto der!!!

    .... ou trabalhar para que se consiga ter cada vez mais ginastas de excelência!!!

    TUDO SE TRABALHA E TUDO SE PLANEIA, BASTA TER MÉTODO.... E QUERER! PORQUE DÁ MUITO TRABALHO!!

    É apenas a minha pequenina opinião... só sei que nada sei!

    Um beijinho

    Marta Ferreira

    ResponderEliminar
  3. Boas. Nem me atrevo a comentar... Deixo apenas uma dúvida pelo que já li... Na competição por equipas continuam a contar 3 pontuações vida F1 e 3 da F2 ? Apesar de na qualificativa para o individual só contar a melhor nota das duas séries, na competição por equipas contam as duas séries... ?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá David
      Eu li o mesmo que tu, mas estou a querer acreditar que se trata de um lapso da própria FIG. Não faz sentido que o ginasta disponha de duas tentativas para fazer a melhor nota possível para o apuramento individual, correndo mais riscos (eventualmente) e que depois tenha que entrar com a nota das duas séries para a nota de equipa.
      Espero que seja engano.

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    2. Penso que é mesmo assim, para não desvirtuar a competição... 2.ªtentativa para fazer mais ou melhor e obrigar a mais competitividade.

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    3. Também não descarto essa possibilidade Marta. Em todo o caso, obriga a algumas cautelas ao nível da disposição para arriscar mais. Arriscas tudo e engatas a equipa, ou arriscas moderadamente. Acabamos por ter a necessidade de pontuar para a equipa a pôr um pouco de gelo na competição.

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  4. Outra questão de um leigo. Este regulamento não poderá potenciar mais lesões e mais graves?

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    Respostas
    1. Não acho que potencie mais lesões. Ao nível a que estes indivíduos competem, o risco só vale a pena se fizer subir a nota final e, para fazer subir a nota final, a dificuldade tem, necessariamente, que ser bem feita. Além disso, têm que garantir que o TOF e o HD não saem prejudicados. Passar de 17,00 DIF para 17,50 DIF dá muito trabalho, mas perder 0,50 em HD ou TOF é num instantinho.
      Se estivéssemos a falar dos escalões de formação, isso preocupar-me-ia bastante, mas ao nível dos absolutos, nem por isso.
      Claro que depende sempre da consciência de cada treinador e, nestas idades, da consciência do próprio ginasta, que tem sempre uma palavra importante a dizer na escolha dos exercícios que vai realizar de acordo com as ambições que tem, mas acredito que a esmagadora maioria vai ser consciente.
      Lembro-me que quando a dificuldade no DMT sofreu alterações significativas e foi muito valorizada (2x para os duplos e x3 para os triplos, com bonificações para as piruetas), também houve esse receio, ainda mais justificado, porque a DIF passou a ser mesmo muito mais importante, mas acabamos por perceber que passada aquela excitação inicial, percebeu-se que a importância das receções estáveis na "box" acabaram por regular a coisa e os ginastas não se apresentaram tão kamikazes como se temia.

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